Análise
do poema “Quebranto”
Autor:
Cuti
Obra:
Cadernos Negros Os Melhores Poemas
Quebranto”
é um poema forte que traduz toda a questão da discriminação
racial no país, o autor se utiliza de uma construção poética
inesperada e surpreende o leitor, à medida que, expõe a realidade
do cotidiano negro, por meio de sua própria fala, o poema mostra o
olhar da sociedade de brancos sobre os negros.
Assim,
o poema denuncia a força do preconceito velado na sociedade
brasileira, que a qualquer momento pode explodir e em qualquer
ambiente (como se vê agora em estádios de futebol), onde tenha
brancos ou negros também, por isso, a expressão “às vezes” que
percorre e finaliza o poema. O autor revela ainda que, a ideologia
dominante prega que a discriminação racial é na verdade culpa do
próprio negro, e não daquele que discrimina, a ponto do negro negar
sua condição e não conseguir sentir orgulho de si mesmo, nem
diante do espelho. O título do poema ‘“Quebranto”, já avisa o
leitor sobre a condição de abatimento, enfraquecimento, prostração,
mau olhado, que recai sobre o povo negro.
O
poema “ Quebranto” faz uma crítica ao racismo e mostra que o
discurso racista já foi assimilado pelo próprio negro. Este já não
consegue reconhecer o seu valor como ser humano:
“ Às
vezes faço questão de não me ver
e
entupido com a visão deles
me
sinto a miséria concebida como um eterno começo”
O
poema revela o sentimento de um ser desvalorizado e
impossibilitado de enxergar qualquer virtude em si mesmo , um ser
incapaz de exaltar os valores de sua raça. O máximo que consegue é
fazer uma denúncia da opressão social que vivencia naquele
momento:
“Fecho-me
o cerco
Sendo
o gesto que me nego
A
pinga que me bebo e me embebo
O
dedo que me aponto
E
denuncio
O
ponto em que me entrego.”
Observa
que o sujeito poético internaliza as imagens depreciativas e além
de oprimido revela-se como o próprio opressor . Referindo –se
sobre a censura introjetada, Cuti destaca que “ O sistema repressor
passa a contar com a própra energia do oprimido, que age contra si
mesmo.” ( , Literatura negro-brasileira, Cuti, 2010, p.58) :
“às
vezes sou o policial que me suspeito
Me
peço documentos
E
mesmo de posse deles
Me
prendo
e
me dou porrada”
Quebranto
às
vezes sou o policial que me suspeito
me
peço documentos
e
mesmo de posse deles
me
prendo
e
me dou porrada
às
vezes sou o porteiro
não
me deixando entrar em mim mesmo
a
não ser
pela
porta de serviço
às
vezes sou o meu próprio delito
o
corpo de jurados
a
punição que vem com o veredicto
às
vezes sou o amor que me viro o rosto
o
quebranto
o
encosto
a
solidão primitiva
que
me envolvo no vazio
às
vezes as migalhas do que sonhei e não comi
outras
o bem-te-vi com olhos vidrados
trinando
tristezas
um
dia fui abolição que me lancei de supetão no
espanto
depois
um imperador deposto
a
república de conchavos no coração
e
em seguida uma constituição
que
me promulgo a cada instante
também
a violência dum impulso
que
me ponho do avesso
com
acessos de cal e gesso
chego
a ser
às
vezes faço questão de não me ver
e
entupido com a visão deles
me
sinto a miséria concebida como um eterno
começo
fecho-me
o cerco
sendo
o gesto que me nego
a
pinga que me bebo e me embebedo
o
dedo que me aponto
e
denuncio
o
ponto em que me entrego.
às
vezes!..
numca ia saber o ultimo verso kk
ResponderExcluirEis o encanto da poesia: Os poetas nos dão as palavras e construímos o significado. Quem saberá, com certeza, tudo o que um poeta deseja expressar?!
ResponderExcluirParabéns por ensentivar a leitura do livro da vida .
ResponderExcluirObrigada!
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