terça-feira, 26 de novembro de 2019

George Orwell, “ A revolução dos bichos”


George Orwell, “ A revolução dos bichos”

Os animais estavam insatisfeitos com a situação que viviam. Certo dia, um porco Chamado “ Velho Major”, resolveu fazer um discurso e levar os animais a uma reflexão sobre o tratamento injusto a que eram submetidos. Em um trecho de seu discurso o porco assim se expressa:

Será isso, apenas a ordem natural das coisas? Será essa nossa terra tão pobre que não ofereça condições de vida decente aos seus habitantes? Não, camaradas, mil vezes não! ( p. 13)

Esse mesmo porquinho que despertou aquela reflexão nos animais, morreu algum tempo depois, mas nos animais permaneceu vivo aquele desejo de mudança. Até que um dia, aquela insatisfação resultou numa revolução. Os animais expulsaram o dono da fazenda e passaram a ter domínio da própria vida.

Os porcos estavam liderando aquela revolução. No início era tudo perfeito, mas aos poucos , os líderes ,, os porquinhos Napoleão e Bola-de-Neve, começaram a exigir privilégios . E um desses líderes assim se expressou:

Camaradas, conclamou, não imaginais, que nós, os porcos, fazemos isso por espírito de egoísmo e privilégios. Muito de nós até nem gostamos de leite e maçã […] é por vossa causa que bebemos leite e comemos maçãs.( p.33)

Eles achavam que mereciam mais maçãs e leite do que os outros animais, e isso era justificável. Aquilo que eles combateram,agora era parte dos próprios hábitos . Os outros tiveram que se resignar, porque se não aceitassem os privilégios de seus atuais líderes, o antigo dono da fazenda voltaria,e ninguém queria isso.

No primeiro confronto com o dono da Fazenda Solar e outros donos de granjas vizinhas, os animais saíram vitoriosos.

Vencido o confronto, começaram as disputas internas, Napoleão e Bola-de-Neve entraram em divergências. Era regra um se opor ao outro a respeito de qualquer questão tratada. Em dado momento, Bola-de Neve surgiu com um projeto de construir um moinho de vento para a granja, Napoleão foi contra, pois na visão deste, era urgente o trabalho de prover a granja com mais alimentos. Cada um mostrava aos demais os prós do seu projetos e os bichos já não sabiam quem tinha razão. Até que Napoleão deu um jeito de expulsar Bola-de-Neve da granja com a ajuda de nove cães que criara secretamente desde muito pequenos. Com a retirada de seu opositor, Napoleão resolve colocar em prática a ideia do moinho dos ventos a que tanto se opôs. Inventou que o projeto era seu e que o seu adversário havia roubado. Alguns dos animais até discordavam, mas não sabiam argumentar. Havia fake news de ambas as partes, assim, os animais da Fazenda não sabiam em quem acreditar e ficavam confusos.

A carga horária de trabalho dos animais aumentava, já trabalhavam 60 horas semanais, por livre e espontânea vontade, depois começaram trabalhar até no domingo, mas os animais não reclamavam, para eles era até uma felicidade.
Apesar do trabalho árduo,começou a faltar mantimentos na granja, até porque os animais não produziam todos os gêneros necessários.. Então foi preciso iniciar contatos com os homens, comerciar e pegar em dinheiro, ações que no início eram proibidas.

Depois vieram mais privilégios para os porcos. Eles foram morar na casa do antigo dono, passaram a dormir em camas. Os demais animais acharam estranho, pois havia uma resolução que proibia, animais morarem na “casa-grande” e dormirem em camas. Os porquinhos inventaram uma desculpa para tudo aquilo, e os animais só tinham como opção aceitar.

Em determinado momento, o moinho de vento desmoronou, e Napoleão culpou Bola-de-Neve de ter causado aquela situação. Cada dia na granja a situação piorava para os animais: O alimento diminuía, o tempo de trabalho aumentava,até chegar ao limite da tirania. Muitos animais foram mortos acusados de traição,outros de serem aliados de Bola-de-Neve e alguns porque cometeram pequenos erros. Napoleão culpava bola-de -Neve por qualquer problema que ocorresse na fazenda , além de armar uma conspiração muito antes da fuga.

Com toda a sutileza, Napoleão transgride todas as 7 leis que criara. A ingenuidade e a pouca memória dos animais deixava brechas para que isso ocorresse com a maior facilidade. Por exemplo, os animais lembraram de um mandamento que dizia “ Nenhum animal matará outro animal. Porém , um dia lendo novamente, eles perceberam que não lembravam de duas palavrinhas que estavam no final da frase: “ sem motivo”.

Nesse contexto, as leis mudam conforme os interesses de seus líderes, e os animais nem percebem que o problema não está na própria falta de memória, mas na falta de compromisso( eufemismo) de seus representantes. As leis mudam conforme os interesses de quem está no poder. A lei está ali para garantir a segurança de uma coletividade, mas acrescenta-se uma palavra e ela se torna um fator de opressão. Assim , o porquinho da história acrescentou mais duas palavras ao sétimo mandamento, e o que era proibição se torna permissividade: “ Nenhum animal beberá álcool em excesso.

A questão da aposentadoria também era um fator de opressão para os animais:
De início quando a lei da Granja dos Bichos foram elaboradas, fixara-se a idade de aposentadoria de doze anos para os cavalos e os porcos, catorze para as vacas, nove para os cachorros, sete para as ovelhas e cinco para as galinhas e os gansos. Para os animais idosos, fixaram-se pensões generosas. Até então nenhum bicho se aposentara, mas ultimamente o assunto vinha sendo objeto de frequentes conversas.( p.90)

Após muitos anos a vida dos animais nada mudou, mas a fazenda prosperou, os porcos viviam no luxo:

Passara-se anos. As estações se alternavam, e a curta vida dos bichos se consumia. Tempo chegou em que ninguém mais se lembrava de antes da Rebelião, exceto Quitéria, Benjamim, o corvo Moisés e alguns porcos. (p.101)

A vida só melhorou para os porquinhos líderes e principalmente para Napoleão, a revolução foi esquecida até mesmo por Napoleão, já estava no poder, então nada mais importava para ele. Resolveu fazer as pazes com os humanos e a história termina com Napoleão brindando com a classe a que fazia oposição. Esqueceram as diferenças e comemoravam na mesma mesa.a granja que havia mudado o nome para granja dos bichos, voltou a chamar-se Granja Solar. Isso demonstra que não havia uma luta pelo bem comum, pelo interesse da coletividade, mas era uma luta pelo poder, Os animais considerados inferiores foram apenas usados para que seus líderes chegassem ao poder. Aqueles que chegaram ao poder, mudaram seu discurso em seguida.

No posfácio do livro, Christopher Hitchens assim se expressa

Qualquer um que conheça um pouco a história da Revolução Russa já terá percebido as semelhanças. E Orwell ainda fez o possível para sublinhar e enfatizar alguns paralelos. A excomunhão dos dissidentes, a reescrita da história, os julgamentos espetaculares e as execuções em massa são representadas com grande nitidez.( p.116)

A Literatura sempre trata de temas universais, inseridos em determinado contexto. Embora a história esteja situada no contexto da Revolução Russa, a busca pelo poder é uma questão vivenciada pelo homem de todas as épocas e lugares. Ali estão as questões da nossa época representadas nas atitudes dos animais da Granja dos Bichos: As disputas internas, as fake news, as questão da aposentadoria , as leis em benefício próprio e um sistema que sobrecarrega quem está na base da pirâmide.

O livro foi publicado em 1945. Antes de ser publicado, foi recusado por quatro editoras.Seu autor, George Orwell ( Eric Arthur Blair) , nasceu na Índia ,em 1903 e morreu em Londres, em 1950.


     ORWELL, George. A revolução dos Bichos. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.

                                                      A Revolução Dos Bichos



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