George
Orwell, “ A revolução dos bichos”
Os
animais estavam insatisfeitos com a situação que viviam. Certo dia,
um porco Chamado “ Velho Major”, resolveu fazer um discurso e
levar os animais a uma reflexão sobre o tratamento injusto a que
eram submetidos. Em um trecho de seu discurso o porco assim se
expressa:
Será
isso, apenas a ordem natural das coisas? Será essa nossa terra tão
pobre que não ofereça condições de vida decente aos seus
habitantes? Não, camaradas, mil vezes não! ( p. 13)
Esse
mesmo porquinho que despertou aquela reflexão nos animais, morreu
algum tempo depois, mas nos animais permaneceu vivo aquele desejo de
mudança. Até que um dia, aquela insatisfação resultou numa
revolução. Os animais expulsaram o dono da fazenda e passaram a ter
domínio da própria vida.
Os
porcos estavam liderando aquela revolução. No início era tudo
perfeito, mas aos poucos , os líderes ,, os porquinhos Napoleão
e Bola-de-Neve, começaram a exigir privilégios . E um desses
líderes assim se expressou:
Camaradas,
conclamou, não imaginais, que nós, os porcos, fazemos isso por
espírito de egoísmo e privilégios. Muito de nós até nem gostamos
de leite e maçã […] é por vossa causa que bebemos leite e
comemos maçãs.( p.33)
Eles
achavam que mereciam mais maçãs e leite do que os outros animais, e isso
era justificável. Aquilo que eles combateram,agora era parte dos
próprios hábitos . Os outros tiveram que se resignar, porque se não
aceitassem os privilégios de seus atuais líderes, o antigo dono da
fazenda voltaria,e
ninguém queria
isso.
No
primeiro confronto com o dono da Fazenda
Solar
e outros donos de granjas vizinhas, os
animais saíram vitoriosos.
Vencido
o confronto, começaram as disputas internas, Napoleão e
Bola-de-Neve entraram em divergências. Era regra um se opor ao outro
a respeito de qualquer questão tratada. Em dado momento, Bola-de
Neve surgiu com um projeto de construir um moinho de vento para a
granja, Napoleão foi contra, pois na visão deste, era urgente o
trabalho de prover a granja com mais alimentos. Cada um mostrava aos
demais os prós do seu projetos
e os bichos já não sabiam
quem tinha razão. Até que Napoleão deu um jeito de expulsar
Bola-de-Neve da granja com
a ajuda de nove cães que criara secretamente desde muito pequenos.
Com a retirada de seu opositor,
Napoleão resolve colocar em prática a ideia do moinho dos ventos a
que tanto se opôs. Inventou
que o projeto era seu e que o seu adversário havia roubado. Alguns
dos animais até discordavam, mas não sabiam argumentar. Havia
fake news de ambas as partes, assim, os animais da Fazenda não
sabiam em quem acreditar e ficavam confusos.
A
carga horária de trabalho dos animais aumentava, já trabalhavam 60
horas semanais, por livre e espontânea vontade, depois começaram
trabalhar até no domingo, mas os animais não reclamavam, para eles
era até uma felicidade.
Apesar
do trabalho árduo,começou a faltar mantimentos na granja, até
porque os animais não produziam todos os gêneros necessários..
Então foi preciso iniciar contatos com os homens, comerciar e pegar
em dinheiro, ações que no início eram proibidas.
Depois
vieram mais privilégios para os porcos. Eles foram morar na casa do
antigo dono, passaram a dormir em camas. Os demais animais acharam
estranho, pois havia uma resolução que proibia, animais morarem na
“casa-grande” e dormirem em camas. Os porquinhos inventaram uma
desculpa para tudo aquilo, e os animais só tinham como opção
aceitar.
Em
determinado momento, o moinho de vento desmoronou, e Napoleão
culpou Bola-de-Neve de ter causado aquela situação. Cada dia na
granja a situação piorava para os animais: O alimento diminuía, o
tempo de trabalho aumentava,até chegar ao limite da tirania. Muitos
animais foram mortos acusados de traição,outros de serem aliados de
Bola-de-Neve e alguns porque cometeram pequenos erros. Napoleão
culpava bola-de -Neve por qualquer problema que ocorresse na fazenda
, além de armar uma conspiração muito antes da fuga.
Com
toda a sutileza, Napoleão transgride todas as 7 leis que criara. A
ingenuidade e a pouca memória dos animais deixava brechas para que
isso ocorresse com a maior facilidade. Por exemplo, os animais
lembraram de um mandamento que dizia “ Nenhum animal matará outro
animal. Porém , um dia lendo novamente, eles perceberam que não
lembravam de duas palavrinhas que estavam no final da frase: “ sem
motivo”.
Nesse
contexto, as leis mudam conforme os interesses de seus líderes, e os
animais nem percebem que o problema não está na própria falta de
memória, mas na falta de compromisso( eufemismo) de seus
representantes. As leis mudam conforme os interesses de quem está no
poder. A lei está ali para garantir a segurança de uma
coletividade, mas acrescenta-se uma palavra e ela se torna um fator
de opressão. Assim , o porquinho da história acrescentou mais duas
palavras ao sétimo mandamento, e o que era proibição se torna
permissividade: “ Nenhum animal beberá álcool em excesso.”
A
questão da aposentadoria também era um fator de opressão para os
animais:
De
início quando a lei da Granja dos Bichos foram elaboradas, fixara-se
a idade de aposentadoria de doze anos para os cavalos e os porcos,
catorze para as vacas, nove para os cachorros, sete para as ovelhas e
cinco para as galinhas e os gansos. Para os animais idosos,
fixaram-se pensões generosas. Até então nenhum bicho se
aposentara, mas ultimamente o assunto vinha sendo objeto de
frequentes conversas.( p.90)
Após
muitos anos a vida dos animais nada mudou, mas a fazenda prosperou,
os porcos viviam no luxo:
Passara-se
anos. As estações se alternavam, e a curta vida dos bichos se
consumia. Tempo chegou em que ninguém mais se lembrava de antes da
Rebelião, exceto Quitéria, Benjamim, o corvo Moisés e alguns
porcos. (p.101)
A
vida só melhorou para os porquinhos líderes e principalmente para
Napoleão, a revolução foi esquecida até mesmo por Napoleão, já
estava no poder, então nada mais importava para ele. Resolveu fazer
as pazes com os humanos e a história termina com Napoleão
brindando com a classe a que fazia oposição. Esqueceram as
diferenças e comemoravam na mesma mesa.a granja que havia mudado o
nome para granja dos bichos, voltou a chamar-se Granja Solar. Isso
demonstra que não havia uma luta pelo bem comum, pelo interesse da
coletividade, mas era uma luta pelo poder, Os animais considerados
inferiores foram apenas usados para que seus líderes chegassem ao
poder. Aqueles que chegaram ao poder, mudaram seu discurso em
seguida.
No
posfácio do livro, Christopher Hitchens assim se expressa
Qualquer
um que conheça um pouco a história da Revolução Russa já terá
percebido as semelhanças. E Orwell ainda fez o possível para
sublinhar e enfatizar alguns paralelos. A excomunhão dos
dissidentes, a reescrita da história, os julgamentos espetaculares e
as execuções em massa são representadas com grande nitidez.(
p.116)
A
Literatura sempre trata de temas universais, inseridos em
determinado contexto. Embora a história esteja situada no contexto
da Revolução Russa, a busca pelo poder é uma questão vivenciada
pelo homem de todas as épocas e lugares. Ali estão as questões da
nossa época representadas nas atitudes dos animais da Granja dos
Bichos: As disputas internas, as fake news, as questão da
aposentadoria , as leis em benefício próprio e um sistema que
sobrecarrega quem está na base da pirâmide.
O
livro foi publicado em 1945. Antes de ser publicado, foi recusado
por quatro editoras.Seu autor, George Orwell ( Eric Arthur Blair) ,
nasceu na Índia ,em 1903 e morreu em Londres, em 1950.
ORWELL, George. A revolução dos Bichos. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.